Descrição em 1873

Villa, Beira Baixa, comarca e concelho e 6 kilometros de Celorico da Beira, bispado, districto administrativo e 12 kilometros ao N. da Guarda, 300 a este de Lisboa,

120 fogos,

500 almas.

A antiga egreja matriz era em Aldeia Rica, freguezia hoje unida a esta; mas a primeira egreja ainda existe. A matriz era a antiquíssima egreja de Nossa Senhora dos Açores, de architectura gothica e de tres naves. Esta egreja foi demolida, por estar muito arruinada, e reedificada quasi pelos fundamentos, pelos annos de 1790.

O seu orago é Santa Maria, ou Nossa Senhora dos Açores. Na capella-mór, da parte do Evangelho, está um tumulo com a seguinte inscripção : «Requievit famvla Xpi. in pace. Svintilivba sub mense. Novembres. Era DCCIIII.» D'esta inscripção semi-barbara se collige que na era de Cesar 704 (666 de Jesus Christo) se sepultou aqui Swintiliuba, serva do Senhor.

Houve aqui em tempos remotíssmos um convento duples.

No fim do século passado se descobriu nos amplíssimos passaes dos priores (que provavelmente foram cêrca do convento) as columnas do claustro e as paredes das officinas. A chronica dos eremitas de Santo Agostinho diz que no século VII houve aqui um mosteiro da sua ordem; mas não adduz provas que satisfaçam plenamente.

Ha aqui o nobre e antiquíssimo Sanctuario de Nossa Senhora dos Açores, que hoje é matriz (como já disse). N'ella se conservam quatro primorosos quadros, 1º apparecimento da Senhora ao rústico da vacca; 2° o do filho do rei ressuscitado ; 3° do açôr e 4º da Victoria que os portuguezes alcançaram dos castelhanos próximo d'aqui. Estas pinturas não têem outro fundamento senão a tradição do povo; pois ninguém sabe quem é o filho do rei que ressuscitou, nem quando nem porque foi dada a batalha.

Desde o principio da monarchia, tiveram os nossos reis este sanctuario em grande devoção e lho fizeram boas doações.

D. Manuel no foral que deu a Celorico, em 1512 (1º de julho) manda que a terça parte dos montados e maninhos, se gastará com os cavalleiros e escudeiros que forem uma vez por anno em romaria a Nossa Senhora dos Açores.

A 3 de maio é que se faz esta romaria, pela camara de Celorico e a despeza era feita pelas ditas terças e por um bom legado que para isto deixou uma devota (não prevendo que deixava o seu dinheiro para se gastar em galhofas, glotonerias, desafios, irreligião e borracheiras.) Este parenthesis é de fr. Joaquim de Santa Rosa de Viterbo. Eu digo o mesmo.

A villa d'Açores nunca teve foral próprio e hoje é apenas uma aldeia. Pretendem alguns que o nome d'esta freguezia lhe provém do milagre que fez Nossa Senhora a um caçador do rei de Castella.

Provirá.

Era da coroa

In "Portugal Antigo e Moderno", de Gomes Leal