Em 1860
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Na província da Beira, junto à serra da Estrella, e três léguas ao ocidente da cidade da Guarda, situa-se a antiquissima villa de Celorico em logar alto.
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Da sua fundação não há notícia certa, pois se deve ter por fabuloso a que lhe atribuíram
alguns dos nossos antiquarios, que tomaram a palavra brigo , em
que terminavam os nomes das cidades an interiores ou do tempo da dominação romana, pelo nome de um certo rei de Hespanha, atribuído a épocas desconhecidas, ou de que há apenas mui confusas
notícias. Como Celorico se chamou em antigas eras Ce liobriga, tiraram d'aqui argumento
os escriptores a que nos referimos, para lhe darem pelo fundador Brigo, rei
de Hespanha, que dizem reinara no ano de 1890 antes do nascimento de Christo
. Muitas razões, porém, levam a
acreditar, que essa palavra brigo designava na língua dos antigos lusitanos cidade ou povoação; como nos primeiros tempos da
mo narchia portugueza se dava o nome de burgo ás povoações, que se iam levantando junto dos cas tellos, ou dos
mosteiros nome que depois se aplicou aos
arrabaldes das cidades e villas . Partindo pois de epocas mais conhecidos na historia ,
diremos que a terra de que nos ocupamos já existiu sob o dominio dos romanos, chame-se então Celiobriga.
- Nas invasões que a Lusitania padeceu,
quando acabou aquelle dominio, Celiobriga foi a seu turno destruida e
reedificada. N'estas diversas transformaram-se parece
que se corrompeu o seu nome, vindo do ser denominado Corrorico .
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Passado apenas meio seculo depois que D. Af fonso Henriques fundara nos terrenos de Campo de Ourique
a monarquia portuguesa, veiu um execito de castelhanos e leonezes pôr cêrco ao seu castelo, no ano de 1187. D. Gonçalo, e D. Rodrigues Mendes , filhos do conde D. Mendo, que eram
alcaides-móres d'este castelo por el-rei D. perado ataque, e pela claridade da lua, que apesar de ser nova, elas alumiaram o suficiente o campo , venceram e desbarataram completamente os inimigos . Por esta ação tomaram por brasão
de armas o castelo e a villa um escudo com uma meia lua e
cinco estrelas.
- Pelos annos de 1245, tendo sido deposto do throno el - rei D. Sancho II , e sendo chamado ao governo do
reino, com o titulo de governador ou regente, seu irmão o infante D. Affonso, que era conde de Bolonha pelo seu casamento, com D. Mathilde, condessa soberana d'aquelle estado, veiu este principe
cercar o castello de Celorico, porque o seu alcaide-mór D. Fernando Rodrigues Pacheco, que o tinha por D. Sancho II, o não queria entregar. Durou o cêrco muitos mezes, e , estando o castello para
se render pela fome, foi salvo por astucia de D. Fernando, e por meio de uma truta, que uma aguia deixou cair sobre o mesmo castello . Este successo , que tencionamos relatar com mais miudeza
n'outra occasião, foi causa de que se accrescentasse ao brasão d'armas um castello tendo por cima uma aguia com uma truta nas garras.
- Querem alguns autores, que do zelo com que foi defendido
este castelo n'estes dois cêrcos, se principiou a denominar a terra Zelo Rico, de que se derivou
por corrupção o de Celorico.
- El-rei D. Manuel deu-lhe foral de villa, acrescentando-lhe os
privilégios, que lhe havia dado D. Affonso II.
- Na curta guerra, que houve entre Portugal e Hespanha, reinando el-rei D. José, foi tomada a villa de Celorico pelos hespanhoes em
1762.
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O senhorio d'esta terra andou em
diversas famílias. Antes do reinado de D.
Fernando pertenceu a Martim Vasques da Cunha. Este soberano deu-a em dote a sua filha bastarda D. Isabel, que casou em 1373 com o conde de Gijon, filho natural de D. Henrique II de
Castella. El-rei D. Manuel fez merce d'este senhorio ao primeiro conde de
Portalegre, e vagando para a corôa pela extinção d'esta familia, deu-o D. Pedro II a André Lopes de Lavre.
- A villa de Celorico tem três freguesias, intituladas Santa
Maria, que é colegiada, S. Martinho e S. Pedro. O templo da segunda é de fabricação muito antiga. Foi fundado pelos templarios no ano
de 1302. O de S. Pedro tem a mesma origem, .com a diferença de alguns poucos anos de menos.
- A casa e hospital da misericórdia foram instituídos no reinado de D. João III, n'uma egreja que já existia, e
fora por muitos anos freguesia, com a invocação de Santo André.
- Na villa e nos subúrbios há nove ermidas, e umas oito
fontes.
- Os arrabaldes de Celorico possuem alguns sítios de muita beleza e
amenidade. O Mondego
fertilisa os seus campos, e fornece algum peixe.
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O
termo produz cereais, leguminosas, fructas, azeite, e algum vinho; e cria-se n'elle bastante gado e caça.
- Celorico tem uns mil e setecentos habitantes.
em As cidades e vilas da monarquia portuguesa - vol
I